


Como era de se esperar, 2025 foi um ano movimentado na economia. Juros em um patamar que não era visto há décadas, instabilidades no comércio internacional e inflação ainda resistente estão entre os principais destaques.
Ao longo do ano, a combinação de Selic a 15% ao ano (a.a.), maior patamar em quase 20 anos, com um IPCA rodando perto de 4,7% em 12 meses, redesenhou decisões de consumo, crédito, investimentos e comércio exterior.
No cenário externo, a economia global desacelerou após um ciclo forte de aperto monetário em várias economias desenvolvidas. Além disso, guerras comerciais entre potências, tensões geopolíticas e custos logísticos mantiveram volatilidade em commodities e no câmbio.
A seguir, veja como esses fatores se traduziram em números, movimentos de mercado e escolhas de empresas e consumidores em 2025.
O cenário de juros e inflação em 2025
Naturalmente, a política monetária foi um dos principais eixos da economia em 2025. Por aqui, o Banco Central (BC) elevou a Selic, taxa básica de juros, ao patamar de 15% a.a., consolidando o maior patamar em quase duas décadas.
A estratégia refletiu um cenário de inflação resistente, incertezas externas e impactos de choques comerciais, como o tarifaço dos EUA.
Mesmo com inflação mais comportada, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) continuou acima da meta em diversos momentos. Em outubro, por exemplo, o acumulado em 12 meses ficou em 4,68%, mostrando moderação, mas ainda fora do nível desejado pelo BC.
Grupos como energia ajudaram a aliviar o índice, enquanto serviços e despesas pessoais mantiveram pressão ao longo do ano. Vale destacar que a meta de inflação é de 3% ao ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual (p.p.)
Segundo o Banco Central, o ambiente exigia cautela, porque os efeitos dos juros levam meses para aparecer na economia. Os comunicados do Comitê de Política Monetária (Copom) reforçaram que incertezas fiscais, mercado de trabalho aquecido e choques vindos da disputa comercial com os Estados Unidos poderiam reacelerar a inflação se a política monetária fosse flexibilizada cedo demais.
Com Selic elevada e inflação abaixo de 5%, o Brasil permaneceu entre os países com maiores juros reais do mundo. Isso encareceu o crédito para famílias e empresas, mas aumentou a atratividade da renda fixa, impulsionando a demanda por títulos públicos e aplicações de curto prazo.
Na economia real, o impacto foi direto. Setores intensivos em financiamento — como indústria, construção e consumo de alto valor — perderam ritmo. Ainda assim, a inflação moderada evitou perda significativa do poder de compra.
Os altos de baixos do comércio internacional em 2025
O comércio exterior em 2025 combinou números expressivos na balança comercial com um cenário de forte tensionamento político nas relações internacionais, puxado principalmente pelo tarifaço dos Estados Unidos e pela guerra comercial com a China.
Ao mesmo tempo, o Brasil seguiu exportando em volume elevado, mas precisou se adaptar a um ambiente mais hostil e imprevisível. Saiba mais!
Balança comercial: superávit alto, mas mais pressão nas importações
De janeiro a novembro, o Brasil acumulou superávit de US$ 57,839 bilhões, com exportações em nível recorde para o período e importações crescendo em ritmo mais forte.
O resultado ainda foi positivo, mas menor que em 2023 e 2024, refletindo um comércio exterior mais aquecido em ambas as pontas. Ou seja, o país vendeu mais, mas também comprou mais, à medida que a economia interna se recuperou e a demanda por bens de capital, combustíveis e insumos industriais aumentou.
Na composição setorial, a agropecuária manteve forte expansão, com destaque para soja, milho, carne bovina e café. A indústria de transformação ganhou espaço com produtos semiacabados de aço, aeronaves e alimentos processados.
Por sua vez, parte da indústria extrativa sentiu o impacto da queda nas exportações de petróleo em alguns meses, em função de ajustes de produção e agenda de manutenção de plataformas.
O tarifaço dos EUA e o impacto direto sobre o Brasil
O grande choque de 2025 foi o tarifaço imposto pelos Estados Unidos, sob a bandeira de “proteger a indústria americana” e responder a supostas práticas desleais de parceiros comerciais.
Primeiro, a Casa Branca anunciou uma tarifa-base de 10% para praticamente todos os países. Depois, vieram sobretaxas mais agressivas, que em alguns casos chegaram a 50% sobre produtos brasileiros, afetando aço, alumínio, petróleo, aeronaves, café e outros itens estratégicos.
Mesmo com o Brasil em faixas menores que grandes alvos como a China, o movimento foi suficiente para reduzir a competitividade de exportadores brasileiros no mercado americano.
Empresas tiveram de renegociar contratos, rever preços e, em alguns casos, buscar outros destinos para parte da produção. Além do efeito direto, o tarifaço aumentou a volatilidade do dólar, elevou a percepção de risco e alimentou debates sobre retaliação e uso da Lei de Reciprocidade Econômica.
Na reta final do ano, alguns sinais de alívio começaram a aparecer. Após meses de negociação, os EUA suspenderam ou reduziram tarifas sobre uma lista de produtos agrícolas brasileiros, incluindo café, alguns cortes de carne e frutas específicas.
A decisão foi comemorada por associações empresariais, mas não eliminou a sensação de que a relação comercial se tornou mais instável e sujeita a viradas políticas repentinas.
Ao mesmo tempo, a trégua temporária entre EUA e China, com redução de parte das tarifas e acordos pontuais em setores como agricultura, fentanil e logística, ajudou a acalmar momentaneamente os mercados. Ainda assim, as barreiras estruturais e a disputa tecnológica permaneceram, mantendo a possibilidade de novos choques à frente.
O cenário das commodities
As commodities ficaram no centro da disputa comercial. Do lado negativo, o aumento de tarifas sobre aço, alumínio e autopeças encareceu embarques para os EUA e pressionou margens da indústria nacional.
O setor de petróleo também sentiu a incerteza, com alguns carregamentos sendo reprogramados e maior sensibilidade a cada declaração vinda de Washington.
Por outro lado, a própria guerra tarifária entre Estados Unidos e China abriu janelas de oportunidade para o agronegócio brasileiro. À medida que produtos americanos ficaram mais caros para os chineses, o Brasil ganhou espaço em soja, carne e outras commodities agrícolas, reforçando ainda mais o papel da China como principal destino das exportações brasileiras.
Esse movimento não compensou integralmente os riscos trazidos pelo tarifaço, mas ajudou a amortecer parte do impacto para setores ligados ao campo.
Para as empresas brasileiras, 2025 foi um ano de gestão ativa de risco no comércio exterior. Exportadores com forte exposição aos EUA precisaram rever mercados, mix de produtos e estratégias de hedge cambial.
Já quem tinha presença consolidada na Ásia ou em outros emergentes conseguiu navegar melhor pelas turbulências, aproveitando a demanda chinesa e oportunidades abertas pela reconfiguração dos fluxos globais.
Como o câmbio se comportou em 2025?
O câmbio também refletiu esse conjunto de fatores. Apesar dos desafios, o real surpreendeu pela força: entre janeiro e novembro, o dólar acumulou queda superior a 13%, favorecido pelo superávit comercial elevado e pela entrada líquida de investimentos estrangeiros.
Mesmo com essa apreciação, a volatilidade não desapareceu. O mercado reagiu a dúvidas fiscais, às decisões do Copom e aos efeitos indiretos do tarifaço dos EUA, que aumentou a sensibilidade do câmbio a eventos políticos e geoeconômicos.
Portanto, os destaques foram:
Fluxo comercial forte: exportações recordes e importações aquecidas ajudaram a estabilizar o real;
Juros elevados no Brasil: atratividade da renda fixa trouxe capital estrangeiro;
Tarifaço dos EUA: aumentou a sensibilidade do câmbio a eventos geopolíticos;
Ruídos fiscais internos: cada revisão de meta ou discussão orçamentária gerou movimentos rápidos.
Além do dólar, o euro também ganhou protagonismo. A moeda europeia começou o ano na casa dos R$ 6,30 e chegou a ser negociada abaixo de R$ 6 em fevereiro.
Contudo, ela se recuperou durante o ano, apoiada em menor risco energético e inflação mais controlada, voltando ao patamar de R$ 6,30.
Esses movimentos geraram semanas de alívio e outras de correção rápida. Para o consumidor, o dólar menos pressionado deu algum respiro, mas ainda pesou em viagens internacionais, em especial passagens aéreas.
Importações de bens de consumo e insumos industriais permaneceram sensíveis, já que muitos contratos foram fechados antes da queda mais acentuada da moeda.
Para as exportadoras, o câmbio seguiu positivo mesmo com a valorização do real. O nível médio da moeda manteve a competitividade de commodities agrícolas e minerais, ajudando a sustentar margens em um ano de tarifas, tensões comerciais e ajustes na demanda global.
O que esperar para 2026?
O ano de 2026 deve manter a economia em um ambiente de atenção constante, mas com mais previsibilidade do que 2025. Dentre os principais destaques, estão:
inflação mais próxima da meta, mas ainda sensível a choques externos e ao tarifaço;
possível início da flexibilização monetária, caso o controle da inflação avance de forma consistente;
câmbio volátil, refletindo fluxo comercial, política fiscal e tensões geopolíticas;
comércio exterior mais competitivo, com espaço para ganhos na relação com a Ásia;
commodities instáveis, especialmente petróleo, soja, minério e café;
instabilidade diante de um novo ciclo eleitoral no segundo semestre.
Para empresas e famílias, 2026 será um ano de planejamento cuidadoso, gestão ativa de riscos e decisões financeiras mais estratégicas, especialmente em câmbio, consumo internacional e investimentos de longo prazo.
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