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Milei e Argentina: a dolarização da economia hermana e os possíveis impactos para o Brasil
18 de outubro de 2023 | Equipe Braza Bank
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18 de outubro de 2023 | Equipe Braza Bank
Há poucos dias das eleições na Argentina, o candidato Javier Milei aparece como um dos principais concorrentes. Ele compartilha as primeiras posições nas pesquisas com o atual ministro da Economia, Sergio Massa, e a candidata conservadora Patricia Bullrich.
Para que a eleição se encerre já no primeiro turno, neste domingo (22), um candidato precisa:
Apesar de improvável que a eleição já tenha a definição neste primeiro turno, o destaque de Milei chama atenção.
Ele se descreve como um anarcocapitalista e advoga pela solução da alta inflação anual, que atualmente atinge cerca de 140%, através da abolição do Banco Central e da adoção do dólar como moeda.
Esse segundo ponto não seria exatamente uma novidade na Argentina. Nos anos 90, o país viveu um período de semi-dolarização, com o austral, moeda da época, com paridade 1:1 com o dólar.
“A descontinuidade da conversibilidade se deu devido à dificuldade para se manter uma paridade, pela necessidade de se ter todos os dólares em reservas. Na época também foram feitas privatizações e planos econômicos para atrair capital estrangeiro para o Estado, mas no longo prazo essa visibilidade foi caindo e junto dela o capital começou a ser novamente retirado do pai”, contextualiza Gabriel Ribeiro, trader do Braza Bank.
Além da dolarização, o candidato promete privatizar as empresas estatais, eliminar programas de infraestrutura pública, flexibilizar as normas trabalhistas para facilitar demissões e implementar uma extensa reforma governamental visando reduzir os gastos.
O Brasil também foi pauta de falas do candidato. Milei afirmou que “não faria negócios com comunistas”, incluindo países como Brasil, Rússia e China no grupo.
Entretanto, o próprio também disse que essa seria uma regra que valeria para empresários. “Não vamos promover nenhum tipo de ação com comunistas ou socialistas. Isso não quer dizer que os argentinos não possam comercializar. Se querem fazer negócios com China, Rússia, com Brasil, com quem seja, problema dos argentinos”, completou.
A dolarização de uma economia refere-se ao processo de adoção do dólar dos Estados Unidos como moeda oficial. No caso argentino, haveria uma substituição do peso.
Assim, além da circulação de moeda, dívidas, juros, salários, entre outros, seriam trocados para o dólar. Na América do Sul, o Equador é um exemplo de país que dolarizou sua economia.
Entretanto, o processo de adoção não é necessariamente simples. Afinal, o país necessita das reservas em dólares para fazer a transição — o que seria um desafio para os hermanos.
“A Argentina precisaria de um empréstimo do Fed (Federal Reserve) ou FMI (Fundo Monetário Internacional) para adquirir o nível de reserva desejado para implementação da política”, contextualiza Gabriel.
Além desse cenário, haveria outros impactos na política monetária argentina:
Além de vizinhos, Brasil e Argentina são importantes parceiros comerciais. Entretanto, as trocas entre os dois países estão em queda.
De acordo com informações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), houve uma redução de 50% no volume de comércio bilateral entre os dois países durante o período de 2010 a 2020.
Em 2022, o Brasil apresentou um superávit de US$ 2,2 bilhões em sua balança comercial com a Argentina. Esse saldo se deve a um total de US$ 15,3 bilhões em exportações para o país vizinho, contrastando com US$ 13,1 bilhões em importações.
Neste sentido, um dos possíveis impactos na eleição de Milei seria uma eventual instabilidade no Mercosul, bloco no qual Brasil e Argentina são as principais economias e têm as maiores populações.
“O candidato a frente das prévias, Javier Milei, não parece querer acompanhar as ideias do bloco, como de utilizar moedas locais para impulsionar o comércio de pequenos importadores e exportadores. Uma Argentina dolarizada dificultaria o processo, por exemplo”, finaliza Gabriel Ribeiro.
Com a Argentina adotando o dólar como moeda oficial, o banco central perde o controle de taxa de juros, ‘impressão’ de moeda e outras medidas para controle de inflação, por exemplo, ficando à mercê das decisões da autoridade americana
Gabriel Ribeiro, trader do Braza Bank