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Selic mantida em 15%: por que o Banco Central optou pela cautela e o que muda com os juros dos EUA em queda
6 de novembro de 2025 |

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6 de novembro de 2025 |

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, pela terceira vez consecutiva, manter a taxa básica de juros da economia brasileira em 15% ao ano. A decisão foi comunicada no fim do último encontro, na quarta-feira (05).
A manutenção, confirmada com unanimidade pelos membros do Copom, já era esperada pelo mercado. Ela também confirma a estratégia de cautela do Banco Central (BC) diante de uma inflação ainda acima da meta e de um ambiente global incerto.
Em nota, o BC destacou que “o cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária”. Segundo o comunicado, a manutenção do atual nível de juros é necessária para garantir que a inflação volte à meta de 3% ao ano, dentro do novo sistema de meta contínua.
Com a decisão, a Selic segue no maior patamar em quase 20 anos. Esse é o mesmo nível registrado em julho de 2006, ainda no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Apesar de o Brasil apresentar sinais de desaceleração econômica e uma inflação em trajetória de queda, o BC avalia que os riscos seguem elevados. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 5,17% em 12 meses até setembro, ultrapassando o teto da meta, de 4,5%.
Mesmo com a prévia de outubro (IPCA-15) indicando alívio nos preços dos alimentos, o Copom entende que ainda não há espaço seguro para iniciar cortes. A autoridade monetária também observa pressões no mercado de trabalho, incertezas fiscais e os impactos da guerra tarifária entre Estados Unidos e Brasil, fatores que aumentam o risco de uma nova alta inflacionária.
Outro ponto é o efeito defasado da política monetária: as mudanças na Selic levam de seis a 18 meses para impactar plenamente a economia. Por isso, o BC prefere manter os juros altos até ter certeza de que a inflação está controlada.
Leia também: O Banco Central pode intervir no mercado de câmbio? Entenda a flutuação cambial suja
Com a Selic em 15% e a inflação projetada em 4,8% para 2025, o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking global de juros reais, com 9,74% ao ano. O país fica atrás apenas da Turquia (17,8%) e à frente da Rússia (9,1%), segundo levantamento do MoneYou.
Essa posição reflete o custo elevado do crédito no país, mas também reforça a atratividade do Brasil para investidores estrangeiros em busca de retornos mais altos.
Isso acontece porque o nível atual da Selic encarece empréstimos e financiamentos — impactando diretamente famílias e empresas —, mas aumenta a rentabilidade de aplicações de renda fixa e títulos públicos.
Como você viu, os juros altos têm um duplo efeito. Por um lado, ajudam a conter a inflação ao reduzir o consumo e desestimular o crédito. Por outro, freiam o crescimento econômico.
Empresas que dependem de financiamento, como as dos setores industrial e da construção civil, já sentem os impactos. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que a política monetária atual “sufoca a atividade econômica e ameaça o mercado de trabalho”.
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) também alertou que o crédito imobiliário se torna inviável para parte dos consumidores. E, para o comércio, os juros altos reduzem o poder de compra das famílias — um desafio em meio ao fim do ano.
Na outra ponta, o Banco Central projeta crescimento de apenas 2% para o PIB em 2025, enquanto o mercado espera 2,16%, de acordo com o Boletim Focus.
Em vigor desde janeiro, o novo sistema de meta contínua de inflação substitui o antigo modelo anual. Agora, o Banco Central avalia o cumprimento da meta mês a mês, com base na inflação acumulada em 12 meses.
O objetivo é dar mais flexibilidade à política monetária e reduzir a volatilidade causada por choques pontuais. A meta central segue em 3%, com intervalo de tolerância entre 1,5% e 4,5%.
Mesmo com essa metodologia mais dinâmica, o BC segue pressionado a manter os juros altos enquanto a inflação não se estabilizar dentro da faixa de tolerância.
Enquanto o Brasil mantém juros no maior patamar desde 2006, o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, realizou o segundo corte consecutivo de juros em 2025.
A taxa americana caiu para o intervalo de 3,75% a 4% ao ano, o menor nível desde novembro de 2022. O movimento foi motivado por inflação abaixo das expectativas e sinais de desaceleração do mercado de trabalho, em meio a uma paralisação parcial do governo (shutdown) e à incerteza política no país.
Segundo o presidente do Fed, Jerome Powell, “as condições do mercado de trabalho parecem estar se desacelerando gradualmente”, e novos cortes não estão garantidos. Eles dependerão dos próximos indicadores econômicos.
Quando os juros caem nos Estados Unidos, os títulos do Tesouro americano (Treasuries) passam a oferecer menor retorno. Isso leva parte dos investidores a buscar mercados com rendimentos maiores, como o Brasil.
Esse movimento tende a valorizar o real, reduzir a pressão sobre o dólar e aliviar a inflação. Além disso, o fluxo de capital estrangeiro pode fortalecer o mercado financeiro e abrir espaço, no futuro, para o início de um ciclo de redução gradual da Selic.
Ainda assim, o Copom reforça que qualquer decisão dependerá dos próximos indicadores de inflação, câmbio e atividade econômica, além do comportamento fiscal do governo.
O Copom volta a se reunir nos dias 9 e 10 de dezembro para definir a última taxa Selic do ano. Economistas do mercado acreditam que o ciclo de cortes só deve começar em janeiro de 2026, caso a inflação siga em desaceleração e o cenário internacional se mantenha estável.
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É a taxa básica de juros da economia brasileira. Ela serve de referência para todas as demais taxas cobradas por bancos e financeiras.
Porque a inflação ainda está acima da meta e o cenário fiscal e externo segue incerto. O Banco Central prefere manter a cautela antes de iniciar cortes.
Sim. O país tem o segundo maior juro real global, atrás apenas da Turquia.
Cortes feitos pelo Fed reduzem a atratividade dos títulos americanos e podem direcionar capital para mercados emergentes, valorizando o real e reduzindo pressões inflacionárias.
O mercado espera o início do ciclo de cortes apenas em 2026, dependendo da trajetória da inflação e da estabilidade internacional.